terça-feira, 5 de junho de 2012

Vontade de escrever, gana de viver.


         Há muito tempo tenho vontade de escrever. Há muito tempo tenho vivido e há muito tempo tenho sentido sensações diversas. Deve ser por isso que não escrevo. Não sei o que sinto, exatamente, mas eu sei que a vida anda me surpreendendo, em todos e bons sentidos.
       
       Pra atualizar o blog, e pra calmaria do mês de junho, já que eu estava escutando e faz bem pros ouvidos, deixo aqui "Olhos Verdes", Detonautas.

http://www.youtube.com/watch?v=7EaA8XiVn-s&feature=fvwrel 

"Mesmo que dentro."

sexta-feira, 4 de maio de 2012

O mundo seria melhor.


 "A Escola Nacional de Magistratura incluiu em seu banco de sentenças, o despacho pouco comum do juiz Rafael Gonçalves de Paula, da 3ª Vara Criminal da Comarca de Palmas, em Tocantins. A entidade considerou de bom senso a decisão de seu associado, mandando soltar Saul Rodrigues Rocha e Hagamenon Rodrigues Rocha, detidos sob acusação de furtarem duas melancias:

DECISÃO: Trata-se de auto de prisão em flagrante de Saul Rodrigues Rocha e Hagamenon Rodrigues Rocha, que foram detidos em virtude do suposto furto de duas (2) melancias. Instado a se manifestar, o Sr. Promotor de Justiça opinou pela manutenção dos indiciados na prisão. Para conceder a liberdade aos indiciados, eu poderia invocar inúmeros fundamentos: Os ensinamentos de Jesus Cristo, Buda e Gandhi, o Direito Natural, o princípio da insignificância ou bagatela, o princípio da intervenção mínima, os princípios do chamado Direito alternativo, o furto famélico, a injustiça da prisão de um lavrador e de um auxiliar de serviços gerais em contraposição à liberdade dos engravatados e dos políticos do mensalão deste governo, que sonegam milhões dos cofres públicos, o risco de se colocar os indiciados na Universidade do Crime (o sistema penitenciário nacional)... Poderia sustentar que duas melancias não enriquecem nem empobrecem ninguém. Poderia aproveitar para fazer um discurso contra a situação econômica brasileira, que mantém 95% da população sobrevivendo com o mínimo necessário apesar da promessa deste ou desta presidente que muito fala, nada sabe e pouco faz. Poderia brandir minha ira contra os neoliberais, o consenso de Washington, a cartilha demagógica da esquerda, a utopia do socialismo, a colonização europeia.... Poderia dizer que os governantes das grandes potências mundiais jogam bilhões de dólares em bombas na cabeça dos iraquianos, enquanto bilhões de seres humanos passam fome pela Terra - e aí, cadê a Justiça nesse mundo? Poderia mesmo admitir minha mediocridade por não saber argumentar diante de tamanha obviedade. Tantas são as possibilidades que ousarei agir em total desprezo às normas técnicas: não vou apontar nenhum desses fundamentos como razão de decidir. Simplesmente mandarei soltar os indiciados. Quem quiser que escolha o motivo. Expeçam-se os alvarás. Intimem-se. Rafael Gonçalves de Paula Juiz de Direito."
 
 
Se tudo fosse similar a tal julgamento, se a teoria do Miguel Reale fosse mais aplicada, talvez o mundo seria melhor, as pessoas seriam mais educadas e teriam mais razão/vontade de serem ressocializadas. Mas falar nisso, é, no mínimo, ridículo e constrangedor - ao menos num país como o nosso. Ainda não consigo me contentar com a ideia do Promotor de Justiça requerer a prisão desses cidadãos. Me pergunto como uma pessoa concursada, com todo seu grau de instrução, com todo seu estudo e dedicação, pode postular por algo tão ridículo. Eu ainda não entendo, tampouco tenho uma resposta para tamanha indignação. É assim que o mundo segue.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Tanto.

Tantas coisas pra escrever. Tanta música pra cantar. Tantas ideias pra compor. Tanto riso para rir. Tanto sorriso pra sorrir.  Tanta coisa pra aprender. Tanta coisa pra ensinar. Tanto sentimento pra sentir. Tanto amor pra dar. Tanto amor pra receber. Tantos livros para ler. Tantas amizades pra fazer. Tantos tombos pra levantar. Tantos sonhos pra realizar. Tantas vitórias para comemorar. Tanto abraços para abraçar, tantos outros pra receber. Tantas pessoas para amar. Tanta família pra valorizar. Tanta coisa pra estudar. Tantos lugares para conhecer. Tanta palavra pra falar. Tanta música para explicar. Tanta história pra se orgulhar. Tantas conquistas pra agradecer. Tantas derrotas para aprender. Tantos sonhos pra lutar. Tanto ídolo pra admirar. Tanto orgulho pra dar, tantos outros pra receber. Tantos caminhos para andar. Tantas esquinas para virar. Tanto instrumento para tocar.  Tanta natureza pra fotografar. Tanto animal para amar. Tantas coisas pra pensar. Tantos compromissos para cumprir. Tanto sentimento pra valorizar. Tantas pessoas para proteger. Tanto choro pra chorar. Tanto conselho para dar, tantos outros para receber.  Tantas palavras pra falar, tantas outras para ouvir. Tanto Direito pra se apaixonar. Tanto Ary pra me orgulhar, tanto mais pra me admirar. Tanto Chaplin pra idolatrar. Tanto código pra pouca bolsa. Tantos motivos para comemorar. Tanta sensibilidade pra sentir. Tanta chuva pra chover. Tanto céu para voar. Tanto avião para se apaixonar. Tanto sol para brilhar. Tanta natureza para admirar. Tantas pessoas pra entender. Tanta psicologia pra explicar. Tantas promessas pra cumprir, tantas outras pra quebrar. Tanta importância pra se importar. Tanto extremismo pra vencer. Tanta justiça pra alcançar. Tanta coisa pra mudar. Tanta lei pra melhorar. Tanta cor pra colorir. Tanto lilás pra adorar. Tantas coisas para sentenciar. Tanto olhar pra descrever. Tantas cartas pra escrever. Tanto medo pra vencer. Tanto campo pra caminhar. Tanta simpatia pra mostrar. Tanta timidez para perder.  Tanto signo para descrever. Tanto touro pra conceituar. Tanta música pra ouvir. Tanto drama pra fazer. Tantos motivos para sorrir.

Pouco tempo pra perder.

Tanta coisa pra viver.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

...Eu sei que o mundo é pior.

   Dia desses estava sentado na praça mais bonita da minha cidade. Sozinho. Eu sei lá, às vezes faço dessas. Nem ligo, gosto de ter meu momento sozinho, porquanto às vezes prefiro engolir e encarar o silêncio do que ter a insegurança de ter alguém que não confio ao meu lado. Pelo menos eu sei que a minha solidão é sincera. É que ultimamente eu acho muito difícil poder confiar em alguém, mas deixa esse papo pra lá.
   Eu e meu violão. Final de tarde, e eu ali, ocupando o banco da praça, embaixo das árvores mais elegantes que eu teria visto até então. Tenho essa mania de observar as pessoas. Aprendo com isso. Esqueço o barulho das ruas, dos carros passando em alta velocidade. Esqueço do barulho irritante da construção ao lado, mas lembro do som do vento balançando as árvores, do canto e assovio dos pássaros e dos gritos contagiantes das crianças que ali no parquinho brincam. É claro que também não esqueço da melodia do meu violão. Mais Uma Vez, Renato Russo. Encerrada a canção. Tomei um gole de água e observei um casal passar de mãos entrelaçadas.
   Amor. Sim, o amor. Quê? Amor? É, o amor. Será? Não sei.
   Voltei a observar o casal. Não mais de mão entralaçadas, agora estavam de costas para mim, caminhando. As mãos dele nas costas dela, e as dela na dele.
   O casal me fez lembrar do meu romance de vinte e por ali anos. Certo, vinte e um. O amor que mais me marcou. Que nada, essa história de que amor não se sente é pura mentira. Se não fosse verdade, não me marcaria.
   Ela era morena. Nem alta, nem baixa, poucos centímetros a menos do que eu. Cabelo comprido, olhos castanhos, brilhantes e lindos. Era dois anos mais nova. Sabia ser meiga e brava. Acho que gostava mais ainda dela quando ficava zangada comigo. Não tinha preço ver o seu rosto se contrair e criar faces inimagináveis no momento de sua fúria. Não conseguia me segurar, tascava-lhe um beijo, dizia que a amava e ficava tudo certo. Ah, não posso esquecer do seu olhar. Deixava-me fascinado, não podia olhar por muito tempo porque era capaz de eu perder as estribeiras. É sério, ela falava com os olhos, de tão profundos.
   Ela foi embora. Não por mim, nem por ela, mas pelo tempo e pela distância. Estava agora há quilômetros de mim. País diferente do meu, não éramos mais sinônimos. Agora, antônimos. Era uma bela chica, muy guapa, como diria meu professor de espanhol.
   Tudo isso me fez pensar no amor.
   Amor.
   Eu sei que amor é bem mais do que mãos entrelaçadas. Eu sei porque eu vivi um. E não pense que amor é só o que há de melhor.
   Eu aprendi o que é amor quando eu pude sentir ele em mim. Puro e sincero. Borboletas na barriga foi a primeira sensação que eu tive, no começo do namoro. Ah, elas não iam embora nunca, e como incomodavam. Com o tempo eu sei que foi diminuindo, porquanto a certeza de que eu a veria era mais certa. Não posso negar que elas também não deixaram de sumir completamente, pois quando ficava muito tempo sem vê-la, elas voltavam no momento em que eu matava a tamanha saudade daquela menina dos olhos mais lindos do mundo.
   Recordo bem dos nossos momentos no parque, e lembro muito bem do jeito como ela sentava e me olhava. Apaixonada. Há muitos anos ela estava aqui no banco, sentada ao meu lado. Hoje, se eu olhar para o lado, o que verei é apenas a sombra do braço do meu violão. Risadas, brincadeiras e dores de barriga de tanto rir. Era isso que ela me proporcionava, a garota mais linda que eu conheci. Quero deixar bem claro que ela era ainda mais linda de alma. É sério, mesmo brava como era. Era parceira, mas tinha ciúme. Muito ciúme. Ah, isso me deixa com nostalgia. Ciúme que me incomodava, mas ah, que saudade. Saudade de lembrar que ela se importava comigo e não queria me ver longe. Tinha ciúme das garotas que eu conversava.
   Amor era bem mais que isso. Amor era ficar as noites em claro quando nós discutíamos. Era ficar olhando pro teto, mesmo que no escuro, e pensando aonde eu tinha errado. Amor era querer ligar pra ela, mesmo estando brigados e discutidos e magoados e tristes. Amor era querer abraçá-la, dizer o quanto eu a amava e dizer: Está tudo bem, é só mais uma briga, tudo ficará bem. Já está tudo bem, me abraça, vamos rir.
   Amor era não ligar pra ela quando ela estava com as amigas, mas pensar nela em todo-o-segundo-que-passava. Era estar com meus amigos e imaginar como seria legal se ela estivesse ali, junto com as namoradas dos meus amigos. Amor eu sentia quando ela escutava as músicas que odiava, só porque eu gostava. Amor era compartilhar gostos, era dividir as tristezas e multiplicar as felicidades. Amor era quando eu apresentava a minha banda preferida pra ela. Amor era as influências. Amor era quando eu via ela jogando no meu vídeo game. Abri um sorriso lembrando do seu jeito engraçado. Gritava, esperneava sempre que perdia de mim e me chamava de bobo. Então eu a beijava. Amor era quando ela tinha paixão de me ver tocando violão. Eu não a via, ela tinha vergonha. O máximo que fazia era segurar o violão na mão e me provocar, mas ela sempre pedia para eu tocar mais uma música, e escutava, envolvida com toda a melodia e apaixonada pela minha voz. Amor eram os livros que a gente gostava.
   Ela era diferente e bem igual a mim. E eu gostava disso.
   Amor era querer apresentá-la pros meus amigos. Amor era ver ela sem maquiagem e de pijama, com o cabelo-acordei-agora-e-para-de-me-olhar. Ela mal sabia que ficava mais linda ainda sem maquiagem. Os olhos brilhavam mais.
  Amor era compartilhar valores. Com ela eu aprendi que a vida muito mais valiosa é nas pequenas coisas. Simplicidade. Preferia um piquenique no verão, à noite, deitado numa toalha e observando estrelas, com ela, a um jantar romântico num restaurante chique. A companhia dela já me deixava fascinado, fosse o lugar que fosse.
   Amor eu sentia quando tinha medo de perdê-la. Amor vibrante e gigante. Angústia, agonia, tudo parte do meu amor.
   Amor era simplesmente estar na companhia dela.
   E ela se foi.
   Saudade.
   Nostalgia.
  Volto pro meu violão. Mais uma música de Renato Russo, A Cruz e a Espada. Encerrada a canção. Levanto a cabeça para a praça e incrível! Olha! Ali está ela! A menina morena de olhos castanhos mais lindos do mundo... Mas ah, não tenho coragem de falar com ela. O que faz aqui? Estou curioso, inquieto. Minhas mãos começam a suar. Quero falar com ela, quero abraçá-la. Será que devo?
   O casal de antes. Sim, quero também entrelaçar a mão minha na dela. Quero colocar a mão nas costas dela e ter a dela nas minhas costas.
   Hey!, eu grito.
   Ela olha, e o brilho dos olhos dela quase me cegam.
   Depois de um tempo parada, ela está vindo em minha direção. Chega perto. Os dois se olham, e a única coisa que conseguimos fazer naquele momento é abrir um sorriso. De saudade e sentimento, é claro. Eu sei que na cabeça dela passou um filme de tudo o que eu narrei, porque na minha mente foi exatamente o que aconteceu. Ah, vou abraçá-la. O desfecho dessa história eu não saberei.
   A gente aprende o que é amor quando vivemos um.
   Sem amor eu sei que o mundo é pior.