domingo, 25 de dezembro de 2011

Oitenta e oito verdadeiros anos de história.

     Natal é dia de agradecer por ter família e amigos ao nosso lado e também recordar de um grande gênio que por muito tempo fez história. Com um nome mágico, foi um comediante de calças ensacadas e bigode preto que provocou risos e lágrimas em milhões de criaturas. O rapazinho pobre de Londres que conquistou Hollywood com a sua inimitável mistura de drama e alegria: O Meu Mestre Charles Spencer Chaplin. Palhaço que, com imensa certeza, assim como meu pai, é uma das poucas personalidades que eu alimento grande admiração. Obrigada pelos oitenta e oito anos de história. E, acima de tudo, obrigada pelos ensinamentos, meus verdadeiros herois.
     “Hoje levantei cedo pensando no que tenho a fazer antes que o relógio marque meia noite. É minha função escolher que tipo de dia vou ter hoje. Posso reclamar porque está chovendo ou agradecer às águas por lavarem a poluição. Posso ficar triste por não ter dinheiro ou me sentir encorajado para administrar minhas finanças, evitando o desperdício. Posso reclamar sobre minha saúde ou dar graças por estar vivo. Posso me queixar dos meus pais por não terem me dado tudo o que eu queria ou posso ser grato por ter nascido. Posso reclamar por ter de ir trabalhar ou agradecer por ter trabalho. Posso lamentar decepções com amigos ou me entusiasmar com a possibilidade de fazer novas amizades. Se as coisas não saíram como planejei, posso ficar feliz por ter hoje para recomeçar. O dia está na minha frente esperando para ser o que eu quiser. E aqui estou eu, o escultor que pode dar forma. Tudo depende só de mim.”
                                                                                                   Do Mestre Charles Chaplin.
     Feliz Natal e Ano Novo, repleto de muita felicidade e de sonhos realizados.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Reflita.

    "Estou aprendendo a me perdoar com mais freqüência. A não exigir constantemente o melhor, a perfeição. Por longos anos exerci o papel de censor de mim mesmo. Com um persistente e severo olhar de juiz, sentenciava quando me entendia merecedor de alguma sanção. Hoje sei que é um método que paralisa, ao invés de estimular o crescimento pessoal. A crítica em excesso não nos permite ver que uma ação corresponde simplesmente a um determinado estado emocional. E que esse estado muitas vezes obedece a impulsos ou desejos que não podem ser controlados por nós. a falsa noção de que estamos invariavelmente no comando acaba gerando esse tipo de equívoco. Ver-se com mais benevolência pode ser a melhor maneira para mudar uma relação revestida pela seriedade e rigidez.
    É certo que a existência de um olhar analítico mínimo ajuda muito quando queremos quebrar alguns paradigmas. É comum encontrarmos pessoas que professam as mesmas ideias por toda uma vida e se orgulham disso. Sempre fui e sempre serei assim, dizem, com certa empáfia, todos aqueles que se ancoram em certezas absolutas. Felizmente a vida se encarrega de vergar-lhes a espinha. Muitas vezes essa ruptura se dá a partir de um acontecimento trágico, colocando outra perspectiva naquilo que parecia intocável. É preciso observar atentamente o que acontece conosco para não nos equivocarmos tanto. Ou para não acreditar tão cegamente em nossas próprias decisões. O que nos obriga a um constante exame das razões que estão por trás de cada atitude tomada.
    Como nos lembra o grande Fernando Pessoa, “não julgues ninguém, porque não vês os motivos e sim os atos”. As razões, próprias e alheias, sempre nos escapam. Somos exímios trapaceiros  quando precisamos nos autoproteger. Colocar o dedo em riste, independente da direção para onde ele aponta, não costuma dar bons resultados. A severidade engessa o comportamento, tornando-nos previsíveis aos olhos alheios. Antes de proferir sentenças definitivas, respire duas vezes. E observe, experiência a que nos furtamos tão seguidamente, pois o que se costuma descobrir nesses exames de consciência nem sempre é agradável.
    Há vezes em que me sinto combalido depois dessas exaustivas análises. Mas o maior ganho é que se pode estabelecer uma quebra no nosso padrão de comportamento. Quase nada é o que parece ser. Ou, quando é, revela-se apenas como uma possibilidade entra tantas outras. Clareie-se outro foco e pronto: como é que não vimos isso antes? Tanto a dor quando a alegria nos comprometem de tal forma que dificilmente conseguimos vencer o torpor que esses estados emocionais imprimem em nossa alma. Recusamo-nos a perceber o provisório que se esconde em cada situação, colocando nelas um carimbo definitivo.
    Reagimos com desconfiança diante da afirmação de que sofrer pode der uma questão de escolha pessoal. Mas em certo sentido é assim mesmo. Quando temos em nós a possibilidade da reflexão e a disponibilidade para bons e verdadeiros encontros, não é tão difícil mapear áreas desabitadas dentro de nós. Isso geralmente acaba por nos fornecer conforto quando tudo parece repleto de sombras.
    O perdão não se limita a uma aceitação tácita do que somos. Não dispensa o senso crítico e muito menos a frustração. O que ele promove é um olhar mais complacente sobre as causas que nos levaram a agir de determinada maneira numa circunstância específica. Não precisamos ser algozes de nós mesmos. Muito menos vítimas. Um bom roteiro de vida para a maturidade costuma incluir possibilidade de errar. Não existem rascunhos sem borrões. E muito menos alguém que já nasça em sua versão definitiva. Nossa humanidade se funda justamente aqui, na coragem de ir tateando no escuro em busca de uma réstia de luz que possa iluminar o rosto. Só assim conheceremos nossas feições."

Gilmar Marcílio, Pioneiro, 25/12/11.