sexta-feira, 8 de julho de 2011

Os mais velhos.

Estava esperando o ônibus, eu e minha melhor amiga. Uma velhinha surge. Cheia de sacolas, encasacada e com touca na cabeça, literalmente protegendo-se do frio.
Ela: Será que o ônibus demora para chegar?
Eu: Acho que não, faz um tempo já que estamos esperando.
Ela: Mas que bom, assim eu vou rápido e volto rápido, já que eu moro longe.
E ela puxava assunto. E sorria. E falava rápido. E se movimentava mais rápido ainda.
A cada palavra que ela dizia, um sorriso no seu rosto fazia-se presente. Deveria ter lá seus setenta anos e creio eu que bem vividos. Lúcida, querida. O sorriso dela me encantou. Saí do lugar onde estava sentada para dar espaço a ela, e ela ainda quis que eu e minha amiga ficássemos junto, afinal, “não saiam, tem lugar pra nóis trêis!” e mais um sorriso ela despertou. Eu tive vontade de apertar as suas bochechas e de abraçá-la. Que idosa mais querida. Tinha a animação de um adolescente e talvez até da minha idade. Uma disposição que eu nunca tive visto antes. Arrisco em dizer que por dentro ela era muito mais nova do que aparentava.
Cada algo que eu e minha amigas falávamos, ela nos observava e sorria. Virava a cabeça de lado e sorria, querendo que retribuíssemos o gesto. E foi o que fizemos. E fizemos muitas e demasiadas vezes.
Ela: Vocês olharam a previsão do tempo ontem de noite? Ainda bem que hoje tá mais quentinho. Porque tá muito frio, é. Muito frio...
Minha amiga: Verdade. Mas essa semana, o tempo vai melhorar e vai ficar mais quentinho...
E de novo a conversa ressurgia. E falava. E falava. E falava muito além do tempo e da temperatura.
Ela: Vocês são irmãnzes?
Eu e minha amiga: Não, somos só amigas.
Ela: Ah, muito parecidas, viu. Mas que bom ser parecida com as amigas. Vou contar pra vocês que outro dia na rua eu vi dois amigos, mas eram rapaizes, muito parecidos. Mas não eram nada de parentes, nada.
E sorria, com uma alegria de estar ali conversando conosco. Quando o ônibus chegou, ficou eufórica, falando alto: “Olha, chegou o ônibus! Esperou ter um monte de gente pra levar junto! Tchau, meninas! Muito obrigada pela conversa e pela companhia, viu.”
Mais uma vez, tivemos a vontade de abraçá-la. Fiquei pensando naquela Senhora por muito tempo. Ela conseguiu encantar o meu dia com o fato encantador do seu sorriso, ou até mesmo pelo seu jeito de falar “irmãs” e “rapazes”, ou por me mostrar tanta lucidez com tamanha idade. Fiquei feliz por ver uma idosa tão alegre e disposta. Gosto de ver positividade nos idosos. E fiquei pensando no quanto eles são importantes e em como as pessoas os tratam.
O idoso sempre é muito visto como “o chato”, “o irritante”. Quem causa irritação. Mas, não sei. Acho que todo mundo deveria valorizá-los de uma forma mais intensa. Alguém já parou pra pensar por quanta coisa um idoso já passou? Tudo o que vivemos, eles já viveram. Eles têm mais experiência, presenciaram mais momentos, pularam mais obstáculos. Deram vida aos nossos pais e consequentemente são fatores importantes que causaram a nossa existência. Por isso, acho fundamental que sejam respeitados. Mesmo que ele não escute direito ou não se norteie com mais facilidade. Eles devem ser tratados com paciência, como uma criança quando não entende o que dizemos. Eles merecem atenção e muitas vezes, até redobrada.
Não é motivo para que desprezemos porque fazem as coisas “erradas” ou não entendem algo facilmente. A idade aparece depois de um tempo. Ninguém gosta de ser tratado com indiferença, e eles são tão iguais quanto as crianças, jovens e adultos. Um idoso tem de ser respeitado, sempre. Seja ele lúcido, sagaz, perspicaz, “caduco”, engraçado, sério, bravo, feliz, ou contente. Eles têm importância para o mundo e sempre vão ter. Eles merecem ser respeitados, porque um dia também chegaremos ao lugar deles e perceberemos o quanto isso é importante. É muito essencial que saibamos que ninguém de nós vai chegar na velhice lembrando de tudo, com memória totalmente boa e entendendo absolutamente tudo.
Sente, converse, entenda, e, principalmente, escute muito das suas histórias e experiências. A certeza de que eles têm muitos contos interessantes para lhe contar, realmente é muito grande.  E, o mais importante de tudo: aproveite seus avós ao máximo, porque a possibilidade de que eles não estejam mais conosco do que qualquer outra pessoa, em breve, é ampla. Respeitando os idosos, estaremos respeitando e estando de bem com nós próprios.

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